Início Revista da Anicer Revista da Anicer #106 Arte que ultrapassa fronteiras

Arte que ultrapassa fronteiras

Custom CSS

Tendência de Mercado

Arte que ultrapassa fronteiras

Ceramista nordestino esculpe expressões do folclore da região e retrata os costumes dos sertanejos

Por Ascom Sedetur | Fotos: Itawi Albuquerque, Divulgação

O nordestino é antes de tudo um forte. Se adaptarmos o trecho de Euclides da Cunha, podemos compreender muito da história e da arte do Mestre João das Alagoas. Natural de Capela, a 66 quilômetros de Maceió, o artesão usa o barro para expressar aspectos da cultura alagoana, principal inspiração para as suas obras.

A arte sempre fez parte da vida de João das Alagoas. Desde criança, usava desenhos e pinturas para revelar o seu talento. Já adulto, aprendeu sozinho a manusear o barro e transformá-lo de modo que retratasse o espírito e a tradição de Alagoas. Entre suas obras, o mestre esculpiu em alto e baixo relevo o bumba-meu-boi, figura característica do folclore brasileiro, onde pôde contar causos e contos do povo alagoano. “O trabalho com barro é uma continuidade de outras artes de que eu fazia desde pequeno. Sempre desenhei, em cadernos, paredes e outros lugares. O artesanato só deu continuidade a uma tendência que eu já tinha para a arte”, disse João das Alagoas.

Porém, nem sempre do artesanato João viveu. Por anos, trabalhou no comércio de Capela e tinha em suas obras uma forma de complementar a renda mensal. O artesão esculpia as peças e as vendia em Maceió nas horas vagas. Em 1987, perdeu o emprego, ouviu conselhos de amigos e viu na sua arte uma oportunidade de mudar de vida e viver daquilo que tanto amava. Por vezes, pensou em desistir, mas sempre buscou forças e continuou a sua jornada. “Eu comecei a esculpir as figuras do folclore nordestino e levei para o Mercado do Artesanato, em Maceió. A partir disso, surgiram encomendas e eu pude usar o barro como principal atividade. Nessa época, ainda trabalhava como balconista em um supermercado e ia à Maceió nas horas vagas. Desde que fiquei desempregado, passei a viver somente do artesanato. No início, foi bastante difícil, mas hoje consigo viver da minha arte”, afirmou o mestre.

Durante uma exposição em Campinas (SP), foi batizado como João das Alagoas, alcunha que carrega consigo até hoje e que levou pelo mundo inteiro. Há mais de 25 anos, vive somente do artesanato, colecionando prêmios nacionais e tendo destaque internacional. Suas peças compõem importantes coleções de arte popular expostas em diversas cidades do Brasil, além de fazerem parte de publicações em livros de história da arte. Fora do país, já teve obras expostas na França, na Itália e no Museu de Cerâmica do México.

“Eu faço arte por amor. Viver de arte e ter trabalhos dentro e fora do país é motivo de orgulho e responsabilidade. Ser Mestre Artesão tem muito significado. É uma coisa que eu nunca esperava. A gente não tem nem como medir a importância disso. Eu tenho orgulho de ser conhecido como ‘João das Alagoas’ e carregar o nome do meu Estado”, comemorou.

Atualmente, o artesão continua trabalhando em seu ateliê, em Capela, local onde repassa o saber para novos artistas e pessoas que se interessem pela técnica de esculpir em barro; João frisa que ser mestre é uma grande responsabilidade. “Ensinar uma técnica para pessoas que não conhecem nada da matéria-prima é muito difícil, mas também, é muito gratificante saber que sou um agente transformador e que venho contribuindo para mudar a realidade de muitas famílias, através de uma nova oportunidade de vida”, explicou.

O título de Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas foi um reconhecimento de toda uma trajetória de superação e talento. João das Alagoas recebeu a designação em 2011 e hoje é considerado um dos maiores escultores do Brasil.