Queda na demanda forçou redução sem precedentes no setor

A crise desencadeada pela pandemia da covid-19 causou impacto intenso na atividade industrial, informou hoje (28) a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Dados da Sondagem Industrial, referente ao mês de março, mostram que a queda da demanda forçou uma redução sem precedentes da atividade industrial, que levou a utilização da capacidade instalada ao menor nível já registrado na série mensal, iniciada em 2010. O índice de utilização da capacidade Industrial (UCI) efetiva – em relação ao usual – recuou de 44,6 pontos em fevereiro para 31,1 em março. Esse indicador procura medir o quão a atividade industrial está aquecida. Valores abaixo de 50 pontos indicam atividade desaquecida.

O UCI recuou 10 pontos percentuais de fevereiro para março, para 58%. O percentual também é o menor da série.

Segundo a confederação, os setores de móveis, produtos têxteis, vestuário e acessórios, calçados e suas partes e Impressão e reprodução estão entre os mais afetados. Perfumaria, sabões, detergentes, produtos de limpeza e de higiene pessoal não registraram, de modo geral, queda em sua produção em março. Farmoquímicos e farmacêuticos, químicos e alimentos registraram impactos negativos, mas menos intensos que dos demais setores de atividade.

O índice de evolução da produção industrial ficou em 33,3 pontos em março – 14,2 pontos abaixo do apurado em fevereiro e bem abaixo da linha de 50 pontos que separa queda e crescimento da produção. De acordo com a CNI, o indicador reflete queda em uma intensidade e disseminação nunca registrada na série mensal.

Emprego

O número de empregados caiu em março. O índice de evolução do número de empregados ficou em 44,6 pontos, ou seja, abaixo da linha divisória de 50 pontos. A pesquisa ressalta que, apesar da forte queda na produção, a intensidade da redução no emprego foi inferior à apurada nos meses de março de 2015 e 2016.

“O motivo se deve, provavelmente à rapidez e surpresa na queda na produção e reação das empresas por meio de ajustes temporários como férias coletivas, banco de horas, redução de jornada de trabalho e/ou suspensão do contrato de trabalho”, afirma o documento.

Segundo a CNI, mesmo com a queda na produção, os estoques na indústria ficaram inalterados em março. O índice de evolução dos estoques ficou em 50 pontos, o que mostra estabilidade. O cenário é explicado pela paralisação nas vendas ao consumidor, o que resultou em resposta imediata tanto na produção quanto nos estoques.

“Não foi uma produção que diminuiu o ritmo em razão do acúmulo de estoques, mas uma resposta quase que instantânea à interrupção de quase todos os negócios na economia brasileira”, diz a pesquisa.

Condições financeiras

De acordo com a CNI, a situação financeira das empresas industriais piorou como consequência da forte queda do faturamento e da produção, em decorrência dos efeitos da pandemia. Com isso, os empresários passaram a mostrar profunda insatisfação com a situação financeira e a margem de lucro operacional de seus negócios no primeiro trimestre de 2020.

O Índice de Satisfação com a Situação Financeira recuou 8,6 pontos, para 41,4 pontos no primeiro trimestre de 2020. O índice havia alcançado 50 pontos no último trimestre de 2019, o que não acontecia desde o quarto trimestre de 2012. A queda é a maior registrada entre dois trimestres consecutivos e levou o índice para o menor valor desde o segundo trimestre de 2016, no auge da crise econômica anterior.

O lucro das empresas também foi afetado negativamente nos três primeiros meses deste ano. O índice de satisfação com o lucro operacional recuou 8,6 pontos, de 45,8 pontos para 37,2 pontos, e estava em patamar relativamente elevado no quarto trimestre de 2019. Embora abaixo dos 50 pontos, era o maior índice desde o primeiro trimestre de 2011 e acumulava alta de 5,7 pontos nos dois últimos trimestres.

Com a queda, passou a registrar a maior insatisfação com as margens de lucro desde o terceiro trimestre de 2016.

Ainda de acordo com a CNI, o acesso ao crédito, que vinha melhorando, se tornou muito mais difícil no primeiro trimestre de 2020. O índice de facilidade de acesso ao crédito recuou 9,4 pontos, de 43,2 pontos para 33,8 pontos. O índice vinha de seis altas trimestrais consecutivas, período no qual cresceu 6,3 pontos.

Falta de demanda

A falta de demanda, consequência das restrições ao comércio e do isolamento dos consumidores, assumiu a primeira posição no ranking de principais problemas no primeiro trimestre de 2020, tomando o posto da elevada carga tributária. A marca subiu 6,2 pontos percentuais, passando de 29,6% para 35,8%.

A elevada carga tributária foi assinalada por 34% das empresas, o que representa uma queda de 9,6 pontos percentuais.

Em terceiro lugar no ranking está a taxa de câmbio, com 28,9% de assinalações. Trata-se de uma alta de 12,2 pontos percentuais na comparação com o último trimestre de 2019. A elevada instabilidade da taxa de câmbio e desvalorização da moeda brasileira explicam tal crescimento.

A falta ou o alto custo das matérias-primas ficaram na quarta posição, com 20,2% de assinalações. O percentual é explicado pela interrupção no fornecimento de certas empresas, sobretudo oriundas da China, por causa da quarentena imposta naquele país no início do trimestre, assim como dificuldades logísticas e de produção devido às medidas de isolamento social adotadas no Brasil ao fim do trimestre.

Como resultado da crise, verifica-se um crescimento nas assinalações em inadimplência dos clientes e falta de capital de giro na quinta e sexta posições do ranking.

Pessimismo

Segundo a CNI, os índices de expectativas caíram fortemente no mês de abril e passaram a mostrar significativo pessimismo do empresário. Todos os índices apresentaram um recuo superior a 17 pontos na comparação com março, sendo que o índice de expectativa de demanda sofreu o maior abalo, registrando uma queda de 26,9 pontos. As quedas, assim como sua expressiva magnitude, eram esperadas, devido à contração da atividade produtiva, em razão da pandemia do novo coronavírus.

O índice de intenção de investimento, por sua vez, caiu de 58,3 pontos em março para 36,7 pontos em abril. O recuo reflete a piora da situação financeira, além da elevada incerteza e queda na confiança dos empresários.