“Para prevenir a violência contra a mulher, é preciso trabalhar também na desconstrução de preconceitos adquiridos por homens por conta de uma cultura machista e patriarcal que ainda permeia a sociedade”.
A recomendação é da assistente social Flávia Lopes Augusto Sampaio, supervisora do Serviço Social do Seconci-SP (Serviço Social da Construção), por ocasião do Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres (6 de dezembro).
Em artigo escrito sobre este tema, Flávia lista os tipos de preconceito mais comuns entre os homens contra as mulheres e mostra como esses preconceitos estão na base da violência doméstica. A assistente social também chama a atenção das mulheres para que não se sintam culpadas e denunciem atos de violência que venham a sofrer.
Leia abaixo o artigo.
Você acha que violência é só porrada???
A violência doméstica é qualquer ato ou omissão que causa morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, baseada no gênero. É considerada doméstica porque acontece nos espaços onde as pessoas convivem, tendo vínculo familiar ou não.
Quando a mulher é agredida pelo simples fato de ser mulher, a violência é considerada de gênero?
A violência pode acontecer com o tempo, de diferentes formas e com intensidades distintas, mas não deixa de ser ato violento. Por vezes, a violência pode se manifestar de forma em que os comportamentos do agressor se repetem. Inicia-se pelo aumento da tensão, quando agressor costuma se irritar com coisas insignificantes e apresenta comportamentos agressivos e acessos de raiva.
Em tais situações, é frequente o sentimento de culpa da mulher. Ela pode pensar que seria possível evitar esse tipo de atitude do agressor se ela mudasse determinado comportamento. A partir disso, a mulher vítima pode achar que existe justificativa para o comportamento violento do agressor, como se o motivo de ele agir assim sempre fosse algo que ela fez, ou seja, externo e não da responsabilidade dele.
Nesses casos, é frequente a mulher se sentir desorientada e não conseguir reagir. Na sequência, o que acontece muitas vezes é um comportamento arrependido e de reconciliação momentânea.
Tipos de violência
Os atos de violência podem ter muitas formas: verbal, física, psicológica, sexual, moral ou patrimonial.
Em muitos casos, a reprodução dessa violência pode terminar em feminicídio, o assassinato da mulher.
Não conseguimos afirmar unicamente o que pode levar um homem a se tornar um agressor, mas para tanto contribuem a cultura machista e outras manifestações sociais. Por muitos anos, quando se falava em violência doméstica, se pensava em apenas trabalhar com as vítimas, deixando o agressor de lado. Notamos cada vez mais o quanto é importante o trabalho com o agressor para quebrar esse ciclo de agressividade.
Até então, se entendia que trabalhar com os homens era trabalhar contra as mulheres. “O que tem crescido agora é o entendimento de que quando se trabalha com o homem autor de violência está se trabalhando para a mulher; para ele deixar de bater em outras mulheres”, diz o psicólogo Adriano Beiras, professor do programa de pós-graduação e do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Abordar essa temática com homens é de suma importância para um processo de desconstrução e mudança no comportamento masculino.
Nesse pensamento, levantamos alguns questionamentos para reflexão:
Assédio e Amizade
Entender errado as relações pode levar a atitudes de assédio.
Por exemplo, é preciso desconstruir preconceitos como: “não existe amizade entre homem e mulher sem segundas intenções”; “as mulheres têm que ser conquistadas e os homens serem os pavões, inflarem o peito”; “se a mulher sorri, é gentil, gosta de conversar, é claro que ela está a fim de algo”.
Esses preconceitos fazem os homens crescerem com interpretações erradas das situações, ajudam a naturalizarem o assédio, a entenderem que assédio é cantada e pensarem que, quando a mulher se nega, isso faz parte do jogo da sedução.
Conheça outros preconceitos que precisam ser desconstruídos:
– Julgar a pessoa pela roupa.
– A mulher ter desejo sexual não é decente.
– Medir a sua honra pelo número de parceiros sexuais.
– Lugar de mulher é na cozinha ou um tanque de roupa suja resolve qualquer depressão.
– A mulher é incapaz, não deve ter cargo de chefia nem receber o mesmo que homem.
– Ciúmes é sinal de amor.
– Um tapinha não dói.
– Em briga de marido e mulher não se mete a colher.
Você já pensou?
Por que aceitamos piadas contra as mulheres?
Por que reproduzimos a desigualdade entre homens e mulheres na educação?
Se todos comem e sujam, por que só as mulheres têm que cozinhar e limpar?
Por que os homens não agridem qualquer mulher, mas agridem aquelas que consideram “sua propriedade” ou sobre as quais pensam “ter direitos” por serem (ou terem sido) suas namoradas, companheiras, esposas?
Qualquer mulher pode ser vítima da violência doméstica. Não importa se ela é rica, pobre, branca ou negra; se vive no campo ou na cidade, se é moderna ou antiquada; católica, evangélica, ateia, umbandista etc.
A dificuldade de reagir e de sair desse cenário de violência, é algo muito difícil para a mulher. No início, ela se culpa e justifica que tudo que ocorre nessa relação violenta é culpa dela, principalmente quando a situação está na fase do arrependimento do agressor. Posteriormente isso a vai deixando com o emocional completamente abalado e ela não tem forças para agir ou reagir. Isso não é culpa dela, a situação de violência causa uma “síndrome do desamparo aprendido”. O desamparo aprendido é um comportamento que acontece quando a pessoa carrega consigo estímulos repetidos e que geram sofrimento, tornando difícil evitá-los.
Não existe mulher que gosta de apanhar, existe uma mulher humilhada demais para denunciar, o que existe é mulher dependente, machucada demais para reagir, com medo demais para denunciar.
Ajude uma mulher em situação de violência doméstica
Diante de uma situação de violência doméstica ou se testemunhar, DENUNCIE:
- LIGUE 180, que funciona 24 horas
- Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam)
- Casa da Mulher Brasileira
- Centros de Referências de Assistência Social, — CRAS, CREAS
- Defensorias Públicas Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.