Obras mais sustentáveis com blocos cerâmicos
Alvenaria estrutural com blocos cerâmicos reduz custos da construção e agride menos o meio ambiente
Por Manuela Souza | João Brito Jr., Luis Lima, Flavita Valsani e acervo Anicer
Um sistema construtivo milenar e ao mesmo tempo moderno ganha destaque na indústria da construção civil – a alvenaria estrutural com blocos cerâmicos. Construtores, empreendedores e corretores podem reduzir os custos de uma habitação em mais de 30%, o que acaba sendo uma grande alternativa para diminuir o déficit habitacional brasileiro.
A alvenaria estrutural é um processo construtivo que utiliza o bloco cerâmico como estrutura, ou seja, um material que suporta cargas. O bloco é um elemento incombustível que oferece melhor durabilidade e conforto térmico, permitindo que se façam edifícios sem a utilização de estruturas de concreto para pilares e vigas, assim diminuindo o emprego de mão de obra e material.
As principais vantagens da alvenaria estrutural são: redução dos custos de construção em relação aos edifícios em estruturas convencionais; padronização de materiais e componentes; isolamento térmico e acústico; diminuição de problemas de interface entre os materiais; redução dos desperdícios, evitando adaptações e retrabalhos; maior facilidade no treinamento de mão de obra; redução de erros de execução, aumentando a qualidade e a produtividade; maior velocidade na construção; menor consumo de água e facilidade de manutenção, já que a oferta de pessoas qualificadas para este tipo de serviço é farta.
Os produtos cerâmicos são mais leves e apresentam enormes vantagens de qualidade, como características físico-químicas que resultam em uma condutibilidade térmica inferior aos outros materiais ou, em outras palavras, têm o melhor isolamento termoacústico. Isso permite grandes economias de energia com ar condicionado ou aquecedor ao longo de toda a vida útil do imóvel. Segundo a Avaliação do Ciclo de Vida dos produtos cerâmicos, realizado pela empresa canadense Quantis, trabalho encomendado pela Anicer, o estudo aponta, dentre outras coisas, as vantagens ecológicas dos produtos cerâmicos em comparação aos equivalentes em concreto, inclusive um desempenho ambiental superior. Além disso, blocos cerâmicos são facilmente encontrados, em qualquer região do Brasil. Testados e utilizados pela humanidade há mais de 10 mil anos, os produtos cerâmicos são os preferidos dos brasileiros por diversas razões e estão presentes em mais de 90% das residências. Produzida a partir dos quatro elementos da natureza, a cerâmica é 100% natural e não utiliza aditivos insalubres aos ocupantes dos imóveis e ao meio ambiente.
A leveza desse material é uma característica valorizada pelos engenheiros e que lhe confere maior eficiência energética e ecológica. Como os blocos de cerâmica pesam aproximadamente a metade do peso de seus equivalentes feitos com outros materiais, isso possibilita a economia no consumo de energia no transporte horizontal – das fábricas aos canteiros de obras – e no vertical – nos elevadores dos canteiros.
Blocos cerâmicos desperdiçam menos água
Ainda de acordo com os resultados apresentados na ACV, os blocos cerâmicos têm menos impacto nas mudanças climáticas, causam menor esgotamento de recursos não renováveis e consomem 43% menos destes recursos que uma parede de bloco de concreto e por volta de 63% menos do que é consumido por uma parede de concreto armado moldado in loco.
Um metro quadrado de parede feita de blocos cerâmicos necessita de 24% menos água do que 1 m² de parede de blocos de concreto e 7% menos do que a parede de concreto moldado in loco. No caso da parede cerâmica, o consumo de água deve-se, sobretudo, à utilização da argamassa e não aos blocos, já que, por exemplo, no caso do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, nas paredes de concreto não há a utilização de revestimento, o que compromete ainda a qualidade das obras. “Há muita controvérsia sobre as especificações e qualidade das paredes injetas de concreto in loco. No Brasil utilizam espessuras inferiores às praticadas em outros países, algo entre 9 e 10 cm, já que paredes com 12 ou 14 cm são muito mais pesadas e caras, além de não serem muito adequadas nos quesitos de isolamento térmico e acústico, pois a constituição do concreto já é de um bom condutor de calor e assim tem o isolamento térmico dificultado e a elevada densidade contribui para a propagação de algumas frequências de som, prejudicando o isolamento acústico”, explica o consultor técnico da Anicer, Antônio Carlos Pimenta.
Segundo dados da Revista Sustentabilidade, para confecção de um metro cúbico de concreto, gasta-se em média de 160 a 200 litros de água e, na compactação de um metro cúbico de aterro, podem ser consumidos até 300 litros, isso sem contar a lavagem das fôrmas utilizadas para produzir o concreto. A água é usada em quase todos os serviços de engenharia, às vezes como componente e outras como ferramenta. Entra como componente nos concretos e argamassas e como ferramenta nos trabalhos de limpeza, resfriamento, cura do concreto e lavagem das fôrmas. Portanto, um sistema construtivo que consuma menos água pode ajudar a reduzir esse impacto.
De acordo com o comitê temático da água do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável – CBCS, a construção civil é responsável por grande parte do consumo de água potável no mundo. Em áreas urbanizadas chega a ser de cerca de 50% da água potável fornecida à região. Para a diretora do CBCS, Érica Ferraz de Campos, um sistema construtivo que consuma menos água pode ajudar a reduzir esse impacto. “A escolha do material deve considerar as condições locais e as alternativas disponíveis para cumprir a função desejada, bem como critérios fundamentais para a sustentabilidade, como qualidade e durabilidade. Se considerados os materiais convencionais, a seleção de fornecedores é prioritária e deve levar em conta o alto desempenho no processo produtivo, a legalidade e formalidade da empresa, e o atendimento às normas, às questões ambientais e de responsabilidade social”.
Fazendo uma conta rápida, o consumo de água para construção de uma casa, nos padrões do Minha Casa, Minha Vida 1, que media 36 m² de alvenaria cerâmica construída, seria de 25 metros cúbicos, enquanto que a de concreto consumiria 71 metros cúbicos e a de parede de concreto moldada in loco consumiria 158 metros cúbicos. Ao multiplicarmos esses números pelos 2 milhões de moradias construídas pelo programa em todo o Brasil, teremos um gasto de 316 milhões de metros cúbicos para paredes de concreto moldadas in loco e 143 milhões de metros cúbicos de água para blocos de concreto, enquanto que os blocos cerâmicos consumiriam apenas 46 milhões de metros cúbicos de água, ou seja, 65% menos que os blocos de concreto e 84% menos do que a parede de concreto retira das nossas reservas. Esta diferença, daria para abastecer a cidade de Fortaleza por quase dois anos (20 meses).
“A manutenção destas paredes moldadas in loco também é mais complexa do que outros sistemas, pois são constituídas de placas de grandes dimensões e que requerem mão de obra especializada. Alvenarias construídas com blocos cerâmicos de forma convencional, com alvenaria racionalizada ou estrutural e painéis mistos pré-fabricados, têm melhor isolamento térmico e são muito mais leves do que as paredes maciças de concreto, além de serem mais sustentáveis, pois utilizam quantidades menores de cimento e outros componentes de menor impacto ambiental”, revela Pimenta.
Projetos que não selecionam os materiais mais adequados à construção tornam-se deficientes, geram problemas futuros com manutenção e aumentam desnecessariamente o impacto de todo o ciclo de vida do produto. Além disso, pode afetar a qualidade da temperatura interna da construção gerando um maior consumo de energia e, consequentemente, de água, durante toda a vida útil do imóvel. Publicada em 19 de fevereiro de 2013, a nova versão da ABNT NBR 15.575 – Desempenho de Edificações Habitacionais, popularmente conhecida por Norma de Desempenho, estabelece a importância do conforto, vida útil, garantia, segurança, estabilidade, desempenho acústico e térmico das construções.
Levando em consideração que os antigos imóveis eram construídos com blocos e tijolos cerâmicos, e a qualidade em termos de desempenho térmico e acústico eram notadamente superiores aos inovadores materiais utilizados hoje em construções, supõe-se que a Norma proporciona a garantia de imóveis mais seguros e melhores. Para o Doutor em Engenharia Civil, Guilherme Parsekian, a Norma de Desempenho facilita a evolução da construção civil brasileira. “Ajuda na melhoria de nossos profissionais que passaram a valorizar uma série de conhecimentos que antes não davam importância. Ajuda as boas construtoras a ‘vender’ um melhor desempenho. A longo prazo, o custo financeiro e ambiental das nossas edificações deve ser menor. O usuário terá mais conforto”.
Em meio a discussões sobre métodos construtivos mais sustentáveis, vale o exercício de conscientização por parte das construtoras de que nem sempre o mais rápido é o melhor.