A escassez de água já preocupa o governo e a população. Investir em construções mais sustentáveis é a iniciativa mais inteligente no momento
Por Manuela Souza | Imagens: Divulgação
Nos canteiros de obras, espalhados por todo Brasil, gasta-se um considerável volume de água até a finalização da obra e, em tempos de seca, quem desperdiça menos água é rei. Embora não seja tratada como material de construção, a água é um recurso natural importante para as obras de construção civil. Segundo dados da Revista Sustentabilidade, para confecção de um metro cúbico de concreto, gasta-se em média de 160 a 200 litros e, na compactação de um metro cúbico de aterro, podem ser consumidos até 300 litros de água, isso sem contar a lavagem das fôrmas utilizadas para produzir o concreto.
Vale lembrar ainda, que a água é usada em quase todos os serviços de engenharia, às vezes como componente e outras como ferramenta. Entra como componente nos concretos e argamassas e como ferramenta nos trabalhos de limpeza, resfriamento, cura do concreto e lavagem das fôrmas. De acordo com o comitê temático da água do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável – CBCS, a construção civil é responsável por grande parte do consumo de água potável no mundo. Em áreas urbanizadas chega a ser de cerca de 50% da água potável fornecida à região.
Para a diretora do CBCS, Érica Ferraz de Campos, um sistema construtivo que consuma menos água pode ajudar a reduzir esse impacto. “A escolha do material deve considerar as condições locais e as alternativas disponíveis para cumprir a função desejada, bem como critérios fundamentais para a sustentabilidade, como qualidade e durabilidade. Se considerados os materiais convencionais, a seleção de fornecedores é prioritária e deve levar em conta o alto desempenho no processo produtivo, a legalidade e formalidade da empresa, e o atendimento às normas, às questões ambientais e de responsabilidade social”.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o volume de chuvas do início de 2014 foi o terceiro pior desde os anos 1930. Os reservatórios do sistema mais importante do país, as hidrelétricas Sudeste/Centro-Oeste, estão em queda pelo terceiro ano seguido e terminaram abril com 38% da capacidade. Em 2011 estavam com 88% de armazenamento; em 2012 com 72%; e em 2013 com 63%. No início do mês de novembro, o Sistema Cantareira, que abastece quase 8,5 milhões de habitante em São Paulo, registrava um volume de armazenamento de apenas 11,3%. A falta de chuva deixou o país em alerta e, no momento, qualquer desperdício de água reflete diretamente na população.
A escolha de um sistema construtivo que consuma menos água pode atenuar os impactos causados pela construção civil ao meio ambiente. A Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos Cerâmicos, estudo realizado pela empresa canadense Quantis, demonstrou que a cerâmica proporciona uma construção bem mais sustentável. As paredes de blocos cerâmicos impactam menos no Esgotamento de Recursos Naturais não renováveis, pois consomem 43% menos destes recursos que uma parede de bloco de concreto e por volta de 63% menos do que é consumido por uma parede de concreto armado moldado in loco. Um metro quadrado de parede feita de blocos cerâmicos necessita de 24% menos água do que 1 m² de parede de blocos de concreto e 7% menos do que a parede de concreto moldado in loco. No caso da parede cerâmica, o consumo de água deve-se, sobretudo, à utilização da argamassa e não aos blocos, já que, por exemplo, no caso do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, nas paredes de concreto não há a utilização de revestimento, o que compromete ainda a qualidade das obras.
Para o presidente da Anicer, Cesar Gonçalves, a ACV dos Produtos Cerâmicos é uma forma de oferecer ao consumidor condições de escolher um produto por meio de critérios de consumo responsável. “O consumidor tem que deter esse tipo de informação para fazer uma escolha consciente. Além disso, é importante saber em que podemos melhorar, aperfeiçoar, onde podemos reduzir o consumo na produção, transporte, uso e descarte, bem como conhecer a condição do nosso produto e seu grau de impacto”, avalia.
O consumo de água para construção de uma casa, nos padrões do Minha Casa, Minha Vida 2, que media, no mínimo, 36 m2 de alvenaria cerâmica construída, seria de 25 metros cúbicos, enquanto que a de concreto consumiria 71 metros cúbicos e a de parede de concreto moldada in loco consumiria 158 metros cúbicos*. Ao multiplicarmos esses números pelos 2 milhões de moradias construídas pelo Minha Casa, Minha Vida em todo o Brasil, teremos um gasto de 316 milhões de metros cúbicos para paredes de concreto moldadas in loco e 143 milhões de metros cúbicos de água para blocos de concreto, enquanto que os blocos cerâmicos consumiriam apenas 46 milhões de metros cúbicos de água, ou seja, 65% menos que os blocos de concreto e 84% menos do que a parede de concreto retira das nossas reservas. Esta diferença, daria para abastecer a cidade de Fortaleza por quase dois anos (20 meses).
*Ao longo da vida útil
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