Formado em direito, Orivaldo Barros trabalha como diretor internacional do Grupo BRE e dedica-se ao desenvolvimento de parcerias e projetos internacionais nos temas de inovação, sustentabilidade e resiliência para o ambiente construído e indústrias associadas.
Por Mariana Costa, sob a supervisão de Manuela Souza | Fotos: Cristiano Cardoso
O senhor foi até Porto Alegre para falar em um evento voltado à indústria de cerâmica vermelha. Seu tema principal era ‘Balanço energético e acústico da habitação: experiência britânica’. Por que esse projeto ganhou destaque e qual o resultado mais efetivo dele?
Na verdade eu trabalho para um instituto internacional que desenvolve sustentabilidade e inovação com foco no ambiente construído. Acredito que aqui no Brasil, todas as indústrias auxiliares do ambiente construído estão passando por um processo de transformação por conta de novas legislações, novos padrões e de novas demandas. Por isso a importância de eventos como esse, onde está sendo discutido não só os desafios mas também as oportunidades do setor. A renovação é essencial para atender essas novas demandas, esses novos padrões e novos requisitos que a cadeia produtiva e as cadeias auxiliares estão pedindo dessa indústria – para ela se repensar e trabalhar com inovação e sustentabilidade.
O senhor pode definir o que são exatamente as habitações sustentáveis e quais as suas principais características?
Pegando a experiência britânica e olhando a questão do que é uma habitação sustentável, esse tema é muito variável. Uma habitação sustentável é aquela que é eficiente em relação a energia, a redução de resíduos, e a todo o seu ciclo de vida. Desde o design até a demolição – ela deve ser sustentável em todas as fases – desde escolhas de materiais até a maneira como foi desenhada, passando pelos processos de construção até a operação. Todo o investimento que é feito dentro da construção de um edifício, seja ele comercial ou residencial, o grande investimento de capital ocorre durante a fase de design, de construção. Entretanto, se você for olhar toda a análise do ciclo de vida, a parte da operação é muito maior do que o investimento de capital. Mas existe um problema: quem está construindo o prédio não pensa na operação do mesmo. Entretanto, isto está mudando. Existe uma mudança de paradigmas, uma demanda dos ocupantes, das pessoas que estão comprando novas habitações ou prédios, para que a operação seja eficiente, com redução do gasto de energia, da água e dos resíduos, mas em um espaço confortável. Esses são os tópicos que vão mudar o perfil da indústria da construção e acaba impactando a cadeia de fornecedores. A indústria da cerâmica vermelha terá que se adaptar a esse novo design, a novos métodos construtivos, a novas demandas que esse mercado vem trazendo.
Essas habitações podem ser projetadas individualmente ou necessitam que sejam um projeto coletivo para que os benefícios unitários sejam potencializados no conjunto?
Esta pergunta é muito importante. Eu acredito que seja o conjunto das duas coisas, elas têm interface. Você tem que pensar a unidade habitacional sendo sustentável, mas você tem que pensar também a interação dessa unidade dentro de uma comunidade – como essa comunidade interage com a infraestrutura que já existe e a infraestrutura que terá que ser criada. É preciso olhar a unidade individualmente e como ela interage dentro de uma comunidade e com a infraestrutura.
Qual a importância de que esse tipo de habitação receba incentivo governamental e não seja apenas de âmbito privado? Os diferentes governos (municipais, estaduais e federal) devem tratar o tema como questão de sociedade, por quê?
Eu acho que politicas nacionais podem fomentar o setor para desenvolvimento de novos padrões sustentáveis. Todas as esferas do governo podem promover esse tipo de edificação e de práticas, não só no setor da construção, mas em todas as indústrias. E como indivíduo, como sociedade, precisamos mudar nossos paradigmas. Nós temos 7 bilhões de pessoas vivendo neste planeta, e é insustentável vivermos da maneira como vivemos hoje. Então, nós temos que repensar a maneira como consumimos, a maneira que moramos, a maneira que nos transportamos, e isso vem em todas as esferas de governo, de sociedade e também de negócios. É uma questão de sobrevivência para a indústria, para os governos e para a sociedade. As mudanças climáticas, por exemplo, terão mais eventos como o frio e o calor mais severos, secas, furacões etc. Quando eu estudava aqui no Brasil, eu me lembro das aulas de geografia e o Brasil era o país que tinha mais água potável e limpa no mundo. Hoje, nós estamos sofrendo secas terríveis. A matriz energética do país tem sua maior parte, vinda de hidrelétricas, então, se faltar água falta também energia.
Quais as vantagens para as sociedades que se comprometem com construções sustentáveis?
Eu acho que as pessoas vivem a maior parte do seu tempo dentro de edificações, se você não está dormindo dentro da sua casa, você vai estar trabalhando dentro do escritório, ou você vai estar se divertindo dentro de um centro de esportes, e tudo isso faz parte do ambiente construído. Existem duas coisas, primeiro é adaptação do que já foi construído. Nós não podemos demolir e reconstruir novamente. Então temos que pensar em como podemos reabilitar o que já temos para que essas habitações possam ser operadas da maneira mais eficiente e sustentável possível. Isso é uma coisa. A outra coisa, é fazer um desenho-conceito de novas construções que serão sustentáveis. E, para isso, nós precisamos de padrões que sejam desenvolvidos, de legislações e normas que realmente possam criar um direcionamento para que a cadeia produtiva e a cadeia de fornecedores possam se transformar e implementar essas novas mudanças. Todo mundo ganha com isso.
Como são as experiências de reformas ou adaptações em construções antigas? Pode nos contar com mais detalhes algum exemplo significativo?
Quando eu comecei a trabalhar na BRE, o meu primeiro trabalho foi participar de uma equipe para criar e desenvolver técnicas de reabilitação de prédios já existentes. A Inglaterra tem um estoque de habitação muito antigo. A maioria delas foi construída antes de 1919, e nós chamamos de habitações vitorianas, porque foram construídas durante o reinado da rainha Vitória. Então, são casas que os britânicos adoram, eles falam que elas têm personalidade. São casas muito bonitas, mas, a realidade é que elas são muito quentes no verão e muito frias no inverno. Como é que novas técnicas construtivas poderiam ser desenvolvidas e incorporadas nessas construções já existentes, para fomentar essa transformação com eficiência energética, sustentabilidade, redução de CO2 e conforto térmico? Isso não é simples. Você pode colocar novos equipamentos e novos produtos que resolvem, por exemplo, a questão da eficiência energética. Mas aí, se cria outro problema como, por exemplo, a condensação, e pode aumentar a umidade dentro da edificação, assim, consequentemente, haverão ácaros que irão contribuir para que o ocupante desenvolva doenças crônicas, como a asma. Você resolve uma coisa e cria outra. Tudo tem que ser olhado de uma maneira holística. Qual é o material que realmente pode ser adaptado ou incorporado nessa edificação, que vai resolver o problema do conforto térmico e, ao mesmo tempo, não vai criar outros problemas? Um dos paralelos que nós fizemos dentro desses estudos, é qual o custo de uma “casa pobre”? Quando eu digo “casa pobre”, quero dizer uma casa mal construída, que não oferece conforto térmico, que não tem uma eficiência energética, que não tem redução de gastos com a edificação. Acaba sendo um custo muito grande, por exemplo, para o Sistema Único de Saúde britânico, que vai gastar muito mais para tratar uma pessoa que ficou doente em função dessa habitação “pobre”, do que você resolver o problema da habitação. Então, o custo é muito maior para o Governo se eles decidirem não fazer nada. É remediar onde tem a fonte do problema. E, nesse projeto, nós fomos além das habitações vitorianas. Há um grande volume de habitações que foram construídas na década de 30, depois da Primeira Guerra Mundial, na década de 40, depois da Segunda Guerra Mundial, e nos anos 60 e 70. As de 80 pra cá, são bem melhores nos padrões e nas normas estabelecidas. Mas todas essas anteriores têm muitos problemas. Nós decidimos fazer muitos projetos para criar um depósito de informações que poderiam fomentar o desenvolvimento de novos códigos, de novos guias, para ajudar a cadeia produtiva e a cadeia auxiliar a se adaptar e criar oportunidades. Nós olhamos desde materiais que já existem, que você pode comprar em qualquer loja de material de construção, mas a maneira como você usa, interage e faz a interface com um prédio já existente é diferente. A segunda metodologia de testes que nós fizemos são com produtos que arquitetos e engenheiros desconheciam porque não tinham uma penetração muito grande no mercado, então, nós testamos esses materiais. E em terceiro, fizemos vários testes com materiais que ainda estavam sendo desenvolvidos ou adaptamos materiais que foram desenvolvidos para outras indústrias como, por exemplo, o aerogel, que é um isolamento térmico, uma nanotecnologia, desenvolvida para fazer o isolamento térmico da roupa dos astronautas quando eles vão para o espaço. Nós utilizamos esse aerogel para fazer o isolamento térmico das habitações. É esse tipo de pensamento que fomenta as inovações e traz novas possibilidades de negócios.
É a primeira vez que o senhor trata do tema no Brasil? Como foi a receptividade por aqui (tanto no âmbito privado como no público)?
Não é a primeira que vez que abordo o tema no Brasil. Na verdade, a primeira vez que eu estive no Brasil falando sobre o tema foi em 2008. E, naquele momento, eu me lembro de perceber uma resistência muito grande das pessoas quando se falava em sustentabilidade – isso eu não quero saber, não é comigo, não é nosso. E de lá pra cá, houve um avanço e um entendimento muito grande. Eu cheguei no 44º Encontro Nacional da Indústria de Cerâmica Vermelha e me deparei com um vídeo institucional da Anicer, falando sobre produtos da indústria da cerâmica vermelha e como ela vem se transformando para se tornar mais eficiente, com um impacto ambiental menor e com maior sustentabilidade. Isso é uma transformação muito grande. A sustentabilidade deixou de ser aquele documento dentro do website. Hoje eu noto que existe uma preocupação muito grande em desenvolver algo que seja consistente. Porque se você não fizer certo, você vai ser descoberto. Eu acredito que a indústria da construção civil se assemelha a indústria automobilística – que passou por muitas transformações ao longo dos anos. Hoje em dia, você não imagina um carro que não tenha cinto de segurança ou airbag, por exemplo. Então, eu acho que num futuro, será impensável uma casa ou um prédio comercial que não seja eficiente no uso de energia, no uso da água, porque as pessoas farão essas demandas. Houve um progresso, existe ainda um longo caminho para ser percorrido e esse caminho, neste momento, é de sobrevivência – aqueles que não se adaptarem, aqueles que não se transformarem, aqueles que não fizerem politicas e práticas realmente sustentáveis, com base em inovação, não vão sobreviver. E aqueles que fizerem, abrirão novos mercados, novas possibilidades de negócios e terão a sua marca considerada por esses fatores.
O que dizer sobre a diferença de perfis de sociedades como a do Brasil e a Britânica?
Fazendo aquele paralelo de sociedades e culturas, na Inglaterra já existe uma grande demanda no setor cultural, das pessoas quererem viver em um prédio ou em uma comunidade mais sustentável. Aqui no Brasil, estamos caminhando nesse processo e acredito que vamos chegar lá.
Qual a sua expectativa sobre colocar em prática, no Brasil, projeto semelhante ao britânico?
Interessantíssima essa pergunta. Desde 2008, quando eu comecei a trabalhar esse tema no Brasil, eu comecei a colaborar com a professora doutora Raquel Naves Blumenschein, da Universidade de Brasília. A UnB, a BRE e a Câmara Brasileira da Indústria da Construção, estão desenvolvendo um projeto chamado CEPAC. Esse projeto é um Centro Nacional para desenvolver inovação e sustentabilidade para o setor da construção. Novos produtos serão testados e desenvolvidos para atender essas novas demandas de habitação sustentável. Esse projeto já está sendo implementado. O Governo Federal, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, nos liberou R$ 8 milhões para começar a construção desse parque, que foi desenvolvido à luz do parque de inovação que temos da BRE em Watford. Nós temos parques que estão sendo desenvolvidos na China, no Brasil, na Escócia, no País de Gales, no Canadá e nos Estados Unidos. Existe um network de parques, o que é muito importante para a troca de conhecimento e de experiência entre profissionais, cadeia produtiva, cadeia de fornecedores de diferentes países, com demandas diferentes, clima diferente. Uma das questões que sempre me perguntam é: vocês constroem habitações sustentáveis na Inglaterra com um clima completamente diferente do nosso, com uma sociedade completamente diferente da nossa, com uma cadeia produtiva mais amadurecida, como é que vocês vão fazer isso no Brasil? As pessoas dizem: isso não pode acontecer aqui no Brasil, não dá, não pode! Eu discordo. Acredito que pode ser adaptado, não precisa ser copiado. E é isso que o CEPAC vai fazer, criar soluções genuinamente brasileiras para os problemas que nós temos aqui. Ao invés de começar com uma casa de nível carbono zero, porque não uma casa mais eficiente? Você pode adaptar de acordo com o que você pode, com a realidade que se vive aqui e esse caminho vai acontecer, a indústria vai amadurecer, as pessoas vão demandar e o governo vai implementar politicas que vão fomentar essas mudanças.
As tecnologias que resultam em construções sustentáveis são viáveis em escala para sociedades como a brasileira, com tantas diferenças de climas, solos e organização urbana, muitas vezes não planejadas?
A BRE desenvolveu uma certificação que é usada em mais de 70 países em todo o mundo. Ela é super adaptável. Essa certificação ambiental para a construção civil, é um método de avaliação ambiental da BRE para o ambiente construído. Nós temos mais de 1 milhão de edificações que já foram registradas para certificação e temos mais de 430 mil unidades que já foram certificadas. É a maior certificação que existe no mundo todo para o ambiente da construção. Aqui no Brasil, nós estamos começando um processo de adaptação da certificação. Estamos levando em consideração a extensão territorial do país, as diferentes zonas bioclimáticas, as diferentes legislações e metodologias construtivas utilizadas em cada região do país. Então sim, é possível fazer essa adaptação para que a indústria local possa melhorar as suas práticas e desenvolver edificações mais sustentáveis.
O que o senhor aponta como tendência na construção civil, especificamente em moradias? E em edificações comerciais ou industriais muda muita coisa?
Acho que existe uma tendência na incorporação do que nós chamamos de MMC – Métodos Modernos de Construção. Você precisa desenvolver edificações de maneira geral mais eficientes, que tenha uma pegada ambiental menor, que seja rápida de construir e que tenha inovação. Se você pegar a habitação social do Brasil, nós temos um déficit altíssimo, por isso, os programas do Governo Federal. Mas, se você pegar os dados que existem, são 7 milhões de unidades de déficit que devem ser entregues. Se você pegar os números de crescimento do país até pouco tempo atrás, um ano e meio atrás, o Brasil teria que estar construído 1,5 milhão de habitações por ano – sociais e não sociais – nos próximos 15 anos. É um numero muito grande. Construir da maneira tradicional como nós construímos hoje, seria impossível. Então, novos métodos modernos de construção, que são métodos volumétricos, ou métodos de blocos, placas, que utilizam a madeira como estrutura, são várias técnicas e várias maneiras que podem ser utilizadas e desenvolvidas. Olhando a indústria da Cerâmica Vermelha, vejo que os produtos e os materiais produzidos por esta indústria, pode incorporar essas novas técnicas construtivas. Os ceramistas terão que pensar em como inovar e criar um produto ou uma solução que vai ter uma interface eficiente com esses novos métodos construtivos. Essa é uma grande tendência e é o que a indústria discutiu no Encontro Nacional, porque é o que vai acontecer no futuro. Além disso, existem três pontos importantíssimos para a indústria: criar a responsabilidade ambiental do produto – de onde ele é extraído, quais são as práticas de transporte, de consumo de energia, qual é a pegada desse produto; o segundo ponto é obter a análise do ciclo de vida desse produto que está sendo criado – olhar o impacto desse produto desde a extração, o que nós chamamos agora de “berço ao berço”, porque no final do ciclo de vida esse produto não tem que ser descartado, ele tem que se transformar em matéria-prima, agregado ou reciclado de alguma forma; o terceiro passo é certificar com uma terceira parte, independente e imparcial, e criar uma declaração do perfil ambiental desse produto. É uma certificação onde vai ser evidenciado que o produto passou por uma prática mais limpa, mais segura e com mais eficiência.
Fale-nos mais sobre o trabalho da Building Research Establishment (BRE).
Eu sou apaixonado pela empresa em que trabalho, porque nós fazemos tudo para o bem. A nossa missão é construir um mundo melhor. A BRE é uma empresa que tem quase 100 anos e mais de 700 pessoas trabalhando lá, a grande maioria são professores, doutores e experts. Nós fazemos ciência e pesquisa de uma maneira muito sólida e robusta, com o objetivo de transformar o ambiente construído e criar novas práticas mais sustentáveis, inovadoras e realmente construir um mundo melhor. Nós fazemos isso desenvolvendo novos padrões, novas certificações de produtos, materiais e serviços. Além disso, temos a BRE Academy, que existe para capacitar a cadeia profissional, desde engenheiros, arquitetos, até quem trabalha no canteiro de obra e precisa de requalificação ou qualificação nesses novos padrões e tecnologias. Nós fazemos consultoria com base em pesquisa.
Até 1997, a BRE era uma empresa do governo britânico, então ela foi privatizada e nós nos transformamos numa fundação. Essa fundação é que domina as empresas do grupo BRE e cada empresa tem como objetivo o lucro, mas todo o excedente é revertido e doado para a fundação que investe em pesquisa e desenvolvimento para novas soluções do ambiente construído. Nós temos centros de excelência dentro de universidades por toda a Inglaterra. E o primeiro centro de excelência fora do Reino Unido é esse no Brasil, em Brasília. Eu tenho projetos em todo o mundo, já fiz trabalhos no Chile, no Peru, no México, no Quatar, na Malásia, na China etc.
Quais inovações tecnológicas o senhor destaca como exemplo a ser estudado e conhecido pelos brasileiros?
Eu acho que os métodos modernos de construção devem ser vistos com um cuidado maior, para desenvolver soluções genuinamente brasileiras, que vão atender esse vasto país com mudanças bioclimáticas. Como é que podemos lidar com o excedente da agricultura? Temos que pensar nisso, é importante! E precisamos investir em ciência e tecnologia no setor. Olhar os setores que são bem desenvolvidos no Brasil e no mundo. A Embrapa, por exemplo, houve um grande aporte do governo brasileiro para desenvolver inovação e capacitar as pessoas para trabalharem nesse setor. No setor aéreo, nós temos a Embraer, que também recebeu um desenvolvimento grande nesse setor com investimento em ciência, tecnologia e inovação. Então, para desenvolvermos casas, habitações e edificações mais sustentáveis e eficientes, nós temos que investir em inovação, novas tecnologias e em soluções que irão fomentar essa transformação.
O que há de mais recente em pesquisas tecnológicas para edificações e o que virá após as inovações atuais?
Tem muita coisa acontecendo. Eu fui convidado para fazer parte de um projeto que, infelizmente não pude aceitar, mas que é muito interessante. Eles estão construindo uma casa que cresce, não é construída, é uma casa de fungos. Projetos como este são interessantes. Ou projetos que utilizam a nanotecnologia desenvolvidas pra NASA mas que podem ser utilizadas dentro da sua sala. E não é só o setor que está se adaptando e desenvolvendo novas práticas. Por exemplo: o Financial Times publicou um artigo dizendo que interessados em adquirir um imóvel poderiam conseguir um valor extra de 45 mil libras no financiamento de suas casas, se elas fossem construídas com tecnologia sustentável, genuinamente verde e de qualidade. É o agente financeiro que entende que uma habitação sustentável tem baixo custo de operação, portanto ele pode financiar mais, da mesma forma que a indústria de seguros vai beneficiar aqueles que têm uma casa mais sustentável e bem preparada para atender essas mudanças climáticas.
As novas tecnologias reduzem a contratação de operários? Como tratar dessa questão em um cenário como o do Brasil, onde o setor de construção é um dos que mais absorve mão de obra?
Eu acredito que todas as indústrias e todos os setores passam por um processo de repensar a questão dos empregos, isso por conta da automação, da internet etc. Mas acho que existem oportunidades para o trabalhador sair do canteiro de obras, onde ele está exposto a sol, às chuvas, para trabalhar num local onde ele tenha mais saúde, segurança e onde ele tenha um ambiente mais saudável para desenvolver novas técnicas. É uma questão de recapacitar, de construir novas oportunidades e implementar novas soluções que poderão criar mais empregos. Empregos verdes e com maior capacitação da mão de obra.
O que o senhor pode comentar sobre necessidades de capacitação e formação dos trabalhadores brasileiros na área da construção civil?
Acho importantíssimo. Quando você coloca um painel solar numa habitação social e ele não está funcionando, quem vai resolver? Você não consegue chamar o pedreiro ou o eletricista para arrumar porque ele não sabe trabalhar com esse novo material, com essas novas soluções de tecnologias renováveis. Existe uma oportunidade fantástica de se capacitar, treinar e trazer os profissionais para atender essas novas tecnologias. Existe uma oportunidade e uma necessidade muito grande nessa área.