O caminho para a diversificação energética

Biomassa

Equipamentos podem reduzir em até 50% o consumo de energia da fábrica

Por Mellyna Reis

A Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), realizada em dezembro, na França, voltou a cobrar o engajamento dos países pela diminuição das emissões de gases do efeito estufa, o maior responsável pelo aquecimento global. A participação de todas as nações – e não somente países ricos – no combate às mudanças climáticas foi o principal ponto do Acordo de Paris, que começa a valer em 2020, assinado pelos 195 países membros da Convenção do Clima da ONU e pela União Europeia.

Entre os compromissos firmados, o Brasil terá de reduzir as emissões de CO2 em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo como ano-base 2005. Considerando essa projeção, o setor industrial brasileiro tem buscado soluções para ajudar o país a cumprir sua parte no acordo. Um dos caminhos possíveis é o uso de biomassa como matriz energética, o que já vem sendo feito por algumas cerâmicas em todo o Brasil. Mas o que é a biomassa?

Biomassa é a matéria orgânica que pode ser utilizada na produção de energia. Por ser vegetal, a lenha, bastante utilizada na queima dos produtos cerâmicos, também é considerada biomassa, no entanto, há outros materiais mais sustentáveis e econômicos que podem ser utilizados nesse processo de combustão.

Casca de arroz, bagaço da cana-de-açúcar, madeira reflorestada e resíduos agrícolas são alguns dos tipos de biomassa que podem ser facilmente aproveitados na indústria de cerâmica vermelha. O gerente técnico da Anicer, Bruno Frasson, revela que muitas fábricas já vêm recorrendo à biomassa como fonte de energia alternativa. “Tanto o momento de custos elevados com as formas de energia e o acesso a maiores tecnologias de controle, quanto às tecnologias de uso das formas de energia e também em função da ampliação da gestão das fábricas, fizeram com que as indústrias de cerâmica vermelha buscassem maior eficiência energética para as fábricas”, conta.

Atualmente, a biomassa é considerada pela Embrapa a principal fonte de energia renovável no país e vem sendo cada vez mais discutida por diversos setores. Em novembro de 2015 foi realizado o Simpósio Internacional BIO.COMBRASIL – Biomassa Sólida, Tecnologias e Negócios, em Florianópolis (SC). O engenheiro Mauro Losso, consultor do Grupo Icon, foi um dos palestrantes que debateu as iniciativas da indústria quanto à utilização da biomassa sólida para geração de energia térmica. Segundo Losso, o uso deste material é uma solução inteligente para uma indústria mais responsável e preocupada com a comunidade. “Dependendo da biomassa que se utilize, pode-se chegar a uma economia interessante”, enfatiza.

Pesquisas da revista The Economist apontam que a biomassa representa aproximadamente metade do consumo de energia renovável da Europa. Em alguns países, como a Polônia e a Finlândia, a madeira reflorestada satisfaz mais de 80% da procura de energia renovável. O engenheiro afirma que o investimento tem um retorno garantido para o empresário. “O produto final tem a mesma qualidade”, assegura.

Se não fossem utilizadas, as biomassas reaproveitadas pelas cerâmicas seriam encaminhadas aos aterros sanitários e durante a sua decomposição, liberariam grandes volumes de metano, um gás que tem potencial de aquecimento atmosférico 21 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO2). De acordo com o técnico em compactação de biomassa, Michel Santos, a utilização desse tipo de combustível traz outros benefícios para o processo de produção. “Podemos automatizar todo o processo, desde o recebimento da biomassa, dosagem, temperatura, necessidade de calorias e umidade, as vantagens além da automatização, para o ganho energético, é permitir um controle melhor do processo, com menos esforço humano, minimizando riscos de trabalho, entre outros”, explica.

Representante da Lippel, que fabrica equipamentos para a indústria cerâmica, Santos esclarece ainda que a utilização da biomassa como combustível em um sistema automatizado pode proporcionar uma economia de até 50% de energia elétrica e uma média de 30% de ganho de eficiência energética, em relação à lenha, além de agregar o conceito de sustentabilidade ao produto. “A biomassa permite uma secagem mais homogênea do produto, aumentando assim a durabilidade e qualidade do mesmo”, destaca.

Para Frasson, essas iniciativas colocam o setor da indústria cerâmica no front da redução das emissões de gases poluentes. “A inovação de máquinas, equipamentos e a própria automação industrial faz com que possamos implementar medidas para a redução do custo da energia elétrica de forma eficiente”, encerra.

Vantagens

A utilização da biomassa na produção de energia é sinônimo de baixo custo, combustível renovável, reaproveitamento de resíduos e menor índice de poluição comparado a outras fontes de energia como o petróleo ou o carvão.

Os tipos de biomassa mais utilizados são: a lenha (já representou 40% da produção energética primária no Brasil), o bagaço da cana-de-açúcar, galhos e folhas de árvores, papéis, papelão, etc. A biomassa também é o elemento principal de diversos novos tipos de combustíveis e fontes de energia como o bio-óleo, o biogás, o BTL e o biodiesel. Nas cerâmicas, em meio às várias alternativas de resíduos, podemos encontrar ainda as cascas do arroz, do coco, da castanha, do amendoim, do algodão, e do café, as palhas do coco e da carnaúba, o bagaço da cana de açúcar, a serragem, o capim elefante, entre outros. O poder calorífico de cada um desses combustíveis alternativos sofre variações que vão desde 3570 (palha de milho) até 4880 kcal/kg (pó de serra).

O processo de renovação se dá pelo ciclo do carbono. A queima da biomassa ou de seus derivados provoca a liberação de CO2 na atmosfera. As plantas, através da fotossíntese, transformam esse CO2 nos hidratos de carbono, liberando oxigênio. Sendo assim, a utilização da biomassa, desde que não seja de forma predatória, não altera a composição da atmosfera.

A biomassa também se destaca pela alta densidade energética e pelas facilidades de armazenamento, conversão e transporte. A semelhança entre os motores com utilização de biomassa e os que utilizam energias fósseis é outra vantagem. No entanto, cada tipo de biomassa requer uma aplicação térmica e processamento específicos.

Embora a utilização de biomassa como fonte de energia tenha vantagens consideráveis, é válido ressaltar a necessidade de um amplo controle sobre as áreas desmatadas. Por isso a preocupação ambiental, mais do que nunca, deve ser uma prioridade na utilização da biomassa.